quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Happy New Year (II)- Depois da Meia Noite

Parte I

Há que tirar uma lição disto tudo. Tem de haver uma moral nesta história...

Após pagar a franquia, um dos lacaios do Dr. Phill levou-nos, a mim e a outros incautos, a uma tour de meia hora pela Downtown de Manhattan. Sujeito simpático mas cheio de informações irrelevantes. Ironia do destino, na hora anterior eu tinha percorrido exactamente os mesmos que sítios a que ele nos levou e após tanta trivialidade chegámos finalmente à Brooklyn Bridge, a tal que costumava ser a maior na altura em que foi construída (aliás os edifícios em NY têm essa particularidade, a de terem sido os maiores e os melhores lá bem atrás, na altura em que foram construídos, ultrapassados agora por uma qualquer torre do Dubai ou ponte em Banguecoque) Faltavam 3 minutos para o fim do ano. Os 3 últimos minutos de 2007 iriam ser minutos de suspense! De um lado Brooklyn, do outro Manhattan. Viam-se o Chrysler Building, o Empire State, enfim toda a coqueluche de mamarrachos. De onde viria o fogo de artifício? Que cores teria? Será que eu iria conseguir aguentar a emoção, com tanto cansaço? Que pena não ter trazido máquina fotográfica, passo a 1ª torre da ponte, continuo a andar até à 2ª ,é lá que se vê melhor o fogo, disse-nos o guia, passo a recta mais desocupada da ponte e de repente 3,2,1 (minto... não houve propriamente contagem decrescente).

Parte II

Lá ao fundo, do lado de Manhattan, depois do 3,2,1 imaginário, heis que se vê um esguichar luminoso. “Ah! Já é Ano Novo, que venha a catarse!” Depois, ainda do outro lado da muralha de arranha céus, um outro esguichar. E ainda mais ao fundo... uns clarões.
Foram dois ou três minutos nisto. Lá ao fundo, atrás das paredes e janelas, uns clarões. Nada de grandes vibrações, nada de espanto, nada de côr. Apenas um “não estou a perceber isto muito bem...” na cara de toda a gente... “deve ter sido por causa da segurança”.

O que quer que tenha sido, a côr não passou do último andar.

Parte III

Todos na ponte tínhamos levado uma bofetada de happy new year. Uns levavam a bem, outros fingiram que não levaram a mal. Eu cá ria, só me ria, mas francamente, levei aquilo mesmo muito a mal! Afinal não tive fogo de artíficio digno desse nome. No país das maravilhas não pedia mais nenhum artíficio do que o do fogo festivo, e não o tive. Caramba!

Para estragar ainda mais a coisa, heis que aparece um helicóptero NYPD com um foco de luz monocromático a rasar a tribo (não tão) festiva da Brooklyn Bridge. Aquilo era para animar as hostes e ouviram-se urros de satisfação... é que afinal de contas, era Ano Novo!, e a cada passagem do feixe de luz mais uns urritos.
Eu não percebi aquilo lá muito bem. Afinal de contas, nos filmes estes procedimentos fazem-se aos fugitivos de prisões de alta segurança e normalmente são seguidos de “freeze, stop right there, ratatatata”.
É que ainda se fosse o fogo de artifício a sair daquela libélula mecânica, verde, azul, vermelho, sóis congregantes, happy new year... Mas não, era apenas luz branca e o pior de tudo, o barulho aflitivo do motor das hélices a fazer-me disparar o reflexo condicionado mais primário... o da fuga!

Parte IV

E pronto. Auscultadores postos Hard to Imagine e ala que se faz tarde.
Metro, PennStation, comboio para Syosset, -3ºC, finalmente taxi para Cold Spring Harbor, e passas no quarto (nem me lembrei delas na ponte).

No rescaldo disto tudo custa-me a crer que não haja uma lição a tirar. Talvez o centro do mundo, por si só, não seja companhia suficiente para uma pessoa acolher o nascer de um novo ano.

Bom 2008! The OriolesWhat Are You Doing New Years Eve


Ps: se alguém tiver encontrado a sua lição pessoal nesta ou na vossa passagem de ano, por favor partilhe. Pode ser que dê para fazer umas quantas resoluções.

5 comentários:

Joana Guerra disse...

Para mim: pouco me importa o onde, mas sei, com toda a certeza, com quem! mas sendo New York já questionaria! Só te faltou o D.Pedro IV e mais a sua espécie de mula! e uns quantos foguetes...mas New York só há aí e só ela vale muito fogo de artifício!
p.s.mais que o fogo de artifício, adorei o Tito Paris!

• pO • disse...

moral da estória:
grande estória! E o que se quer na vidinha são grandes estórias, daquelas onde não se vê logo o "e viveram felizes para sempre...", para contar à lareira daqui a muito tempo a quem queira ouvir e esperar para ver o que vem depois...

Anónimo disse...

Depois de várias passagens de ano também sinto algo parecido.
Não há nada de especial do "outro lado" do fim do ano, apenas mais uma noite que, imagine-se, é a primeira do ano mas igual às outras todas.
O fogo de artificio já não tem a sua espectacularidade. Quando era mais novo, ainda fazia uns "AAAAHHH"s mas agora já não têm nada de novo.
O champagne, as passas, os abraços e beijinhos, o pé direito... sempre a mesma tradição! Lá no fundo fica a esperança que algo mude.
No proximo é que é, tenho a certeza! =)

F disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
F disse...

Tudo não passou de um equívoco sem mais moral do que a necessidade de ver claro (limpar o romantismo obsoleto da esperteza dos olhos). Não se meça a opulência das cidades pelo respectivo fogo de artifício, o que importa é a quantidade de merda que conseguem comportam e pôr a circular. A merda e não o fogo de artifício é que é vida.